A conversa que nunca tivemos

Por Cristyam Otaviano - março 20, 2019

Preciso de uma hora, uma hora para tentar entender de onde vem a tristeza toda vez que acordo. Subir o rio que corre em mim, buscar a nascente, mas tem sido em vão. Uma hora olhando o teto do quarto, querendo que o tempo ande mais devagar, tempo para responder as muitas perguntas sem resposta que correm pela minha cabeça.

Quantos dias mais para que nosso amor não seja uma prioridade? Estava ocupado. Fico o tempo todo lutando por um amor que já morreu, regando uma planta seca de ser castigada pelo sol, cuidando na esperança que ela um dia volte a ter vida.

Nunca soube o que eu significava para você e nem sei mais se quero saber. É o mesmo filme, com as mesmas cenas, falas, personagens. As mil conversas que nunca tivemos, a centenas de perguntas sem resposta na minha cabeça. Passo, repasso, desfaço, refaço e não sai de mim.

O que nós construímos em dois anos? O que temos para chamar de nosso? 

É um castelo de cartas que eu tentei construir meio ao vendaval. Nem me lembro mais do teu cheiro, teu sabor, o toque, os momentos que estivemos juntos. Você parece viver num passado esquecido, que luta para sobreviver de um "eu" que nem existe mais.


Numa dessas conversas que nunca tivemos, eu disse a mim mesmo que não lutaria mais por nós dois. O fim, definitivo, já estava dado devido as circunstancias. Não havia mais tempo, lembranças, presenças, mensagens ou coisa parecida. Quando dei por mim, você virou passado. Já não estava mais aqui.

Por muito tempo tua presença em mim doía, hoje nem sou mais eu, e toda dor afundou junto com meu passado. Não há mais um futuro onde você exista. Em Setembro você acendia o fogo numa floresta seca, sem vida, onde eu habita, floresta eu. Queimei e tudo mais que existia em mim. Você me viu queimar e foi curtir o carnaval.

Meu melhor está com você, mas hoje não faz mais diferença. É passado. Não sou mais eu ali, vivendo nas tuas memórias. Minha saudade teve teu nome, meu querer foi todo teu, não mais. É um passado que morreu.



Nunca fui seu Plano A. Parece que nunca fui alguém importante. Era amor de boca para fora? Isso alimentava minha loucura. Nosso amor foi uma das coisas mais linda que já podia ter me acontecido. Dentre as muitas coisas que você me ensinou, mesmo sem dizer uma palavra, uma delas foi aprender a dizer "adeus".

Não pense que isso se trata de vingança, orgulho. Chega uma hora que desistimos de lutar por certos amores. O amor mais devastador que se sinta, não justifica coisas que já não tem mais nenhum sentido. Nosso amor viveu por entre rascunhos, noites qualquer num quarto fechado. Morria quando o sol nascia. E não houve um dia que eu não pensasse em você.

Termina assim, a conversa que nunca tivemos.  Foi você, dia após dia, levou essa história à ruína. Poderia ter sido lindo. Poderia, já não pode mais. É nosso fim.

O fim trágico, e certo, de um conto de fadas, que eu mesmo inventei na minha cabeça, como você disse. Um fim escrito por você.

  • Compartilhe:

Leia Também

0 comentários