Paro de frente pro espelho, me observo e logo dou por conta. Todos temos um inimigo em comum consigo mesmos. O "eu". Não há coisa pior na vida. Ser seu pior inimigo, abrigar dentro de si o pior de tudo, o mais cruel de todos, seu maior rival. Dois de mim, cada um mostrando seu pior e seu melhor. Brigam em uma luta silenciosa e totalmente espalhafatosa. Sem hora nem lugar marcado, só um limite, o meu corpo. A situação é na solidão, onde não há regras, não há espectadores, não há censura, não há nada, caso contrario já não seria solidão. Só.
Na briga oscilo entre a mais plena sanidade e a mais pura loucura. Sou um relógio, sou o pendulo. Inconstante. Aquele poema que diz que metade de mim é a outra aquilo, se encaixa perfeitamente aqui. Metade de mim é vida e a outra é morte. Enquanto me dou esperanças, para me manter vivo, meu rival me priva dela, com um tapa na cara e diz "Acorda! Essa não é sua vida, caia na real" nessa hora ele vence.
Quem é o mais forte? Eu ou meu contrário? Não sei, mas certas vezes sou fraco a tal ponto de ganhar o mundo, sem rumo, ferido das lutas passadas. Uso trapos porem estou vestido na melhor forma possível e na maior das descrições, fugindo do meu oponente, ele, eu, que vai, na menor brecha me pegar e vai me devorar aos poucos, de dentro pra fora. Até chegar ao ponto onde eu não existo mais, meu corpo.
Falam-me que devo enfrentar meu adversário, fazer dele meu aliado para enfrentar o mundo. Ele é o pior de mim, o eu mais frio, olhá-lo seria uma sentença de morte, ficar cara a cara com ele seria cometer suicídio. Quem sabe isso justifique o medo por espelhos, o medo de mim, do meu reflexo.
Muitos me tem como um referencial, dizem que sou inteligente, sonhador, sou o guerreiro, sou forte apesar de louco. Minha loucura se atesta na minha fraqueza. Minha força é como uma cortina de teatro, a qualquer momento pode se abrir revelando o eu que luta consigo mesmo. O eu destruído, fraco, ferido, um eu morto. Sem mascaras, muito menos cortinas.
Disse à alguém recentemente seria impossível me ferir mais, estava errado. Já cheguei no meu limite, não há mais nada que possa ser ferido. Contudo eu ainda posso me machucar. Meu pior inimigo sou eu.
Não posso fugir, não posso o calar, não posso o matar, mas posso o enfrentar e pedir aos seres de luz que nessa hora ele tenha sanidade suficiente, e não me mate. Eu espero flores. Lágrimas rios salgados, a final como pode você perder uma batalha para si mesmo? Tem que ser fraco, e eu o sou. Fraco. Burro. Sou medo e desespero. Sou a mais pura loucura.
De onde tirarei forças pra continuar a lutar? Não sei! A final o que eu sei? Quem sabe, se render seja a única saída, e eu me rendo. Me rendo ao meu inimigo. Me rendo a mim.