-2015
Sou vítima da coragem. De repente alguém foi corajoso o bastante a ponto de largar tudo, e em menos de um instante eu não tinha mais nada, muito menos ninguém. Por conta da coragem. Hoje sou pobre.
Coragem. Muitos precisam. Outros exalam pelos poros, chega a dar nojo. Mas a que me destruiu veio em uma dose letal, na medida certa, como se cada molécula fosse direcionada para cada átomo meu. Daí já me resumia a nada.
A coragem cria heróis ou quem sabe vilões. Une pessoas, destrói coisas. Causa/Consequência. Quem me dera ter a coragem de ser louco o suficiente. A coragem é a loucura dos sábios. Sábios são corajosos, os outros são só loucos. Eu? Sou um louco sem coragem. A coragem é a irmã da loucura, contrarias, mas de um antecedente em comum. A loucura nasceu para os burros.
Créditos: Cristyam Otaviano |
Dizem que não haveriam grandes homens na história se não fosse a coragem. Esquecem de falar que não haveriam vitimas se ela não existisse. Hitler, Luther King, Calcutá. Eu, a vítima da coragem, O pobre, burro e louco.
Quem sou eu? Fraco. Para onde vou? Para a sarjeta. Por que? Por conta da coragem.
A coragem afasta as pessoas, faz sangrar, fere. Estou entre o fogo cruzado do vilão e do herói, filhos de uma decisão, sou uma vítima. Atingido por uma bala verdadeira, porem inexistente, de que cano ela saiu? Não foi do herói nem do vilão. Hoje sangro. Sangue incolor, inodoro, sangue frio. Sangue morto.
Corajosa é a chuva por se atirar das nuvens, para cair nesse mundo podre ao qual pertenço. Mundo imundo sujo do sangue que derramo, que fazem derramar, por onde passo. O sangue morto, que não se vê, o sangue sem cheiro, sangue sem vida. Mas sangue.
Quem sabe esgote de algo que já não é mais meu. Aí não haverá mais vida. Só será um corpo inerte na inércia do mundo. Uma vítima da coragem. A mesma que faltou na hora do suicídio, na hora de ser quem devia, no momento em que a verdade seria ela. Fraco. Um corpo louco, que só sabe que respira, mas não vive. Vazio, Inerte. Sem vida.