Devir

Por Cristyam Otaviano - março 12, 2019

Feliz dos homens que choram.

Não choro, não porque sou duro, mas porque sou forte. Mas nem sempre tudo se dava assim. Houve um tempo que eu precisei me conter em mim, fui represa de um mares sem fim, era a chuva que viria em mim. É que eu nunca havia chorado, mas nunca deixei de ser humano por isso. Sabe o amor? Eu não conhecia ele.

Choro por me encher de mim, me preencher de alguma coisa. Me verto, ou me completo. Não se assuste se disser que certos dias eu chorava por pura pena de mim. Em conter duas feras que brigavam no peito, doía sim e como doía, mas um pouco a pouco, a dor passou e nunca mais ninguém me viu chorar.


Fez falta, não lembrava mais como era isso, chorar. Precisei, mas o tempo não me deixou, é que a rotina é uma desgraça, uma doença que eu infelizmente conheci, se alimentou de mim, me encheu de dor. Eu só quis poder sentar, sentir o vento no rosto e chorar, chorar pelo cansaço, pela vida que não acontecia, por estar arrependido por escolhas que fiz, pela dor que gritava no peito, por tudo.

Até o tempo precisou de tempo. Quis poder chorar por todos nós, a tristeza coletiva. É silêncio nas ruas, tudo está diferente de antes, o passado fica confuso, tudo parece um borrão. Os fatos não querem ser lembrados. Um remédio para a dor.

Qualquer coisa que encha um vazio, uma bebida, uma noite, pode ser barato e não importa se for forte. O homem que não tem tempo para chorar está fadado a se afogar em suas próprias lágrimas.

Esqueci, não de chorar, mas de viver, de sonhar, de parar e ser feliz. E morro aos poucos por isso, morro com isso. Chora, chora por arrependimento, chora pelo vazio, chora. Chora pelo amor que foi, chora pelo sonho que se esqueceu.

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