Leve

Por Cristyam Otaviano - dezembro 13, 2016

É na delicadeza da flor nascendo no meio da avenida que noto o quanto a vida, é leve. Como o toque do vento na pele, quanto o que respiramos, como a sacola que voa pelo céu da cidade, corajosa, cruzando o ar. Leve como a folha que caiu e enfeitou a passagem. 

O que levamos da vida? Já parou para pensar que a vida é um momento, isso aqui tudo não é para sempre, uma hora acaba. Mas e aí?! No fim de tudo o que você leva? Se você tivesse que ir embora agora, por "n" motivos, o que você levaria?


Sonhos são grandes, mas carregamos ele aqui, dentro de nós, sua leveza é de espantar, nos tira da cama todos os dias e nos faz bailarinos do destino, ao som da rotina. A cada manhã estamos um dia mais próximo do objetivo, o ato final. Algo distante disso pesa, te deixa na cama por horas, te prende a um quarto, uma casa ou um conjunto de paredes. 

Delicada, disposta, a vida é assim. Se faz e refaz. Leve feito uma bailarina no nosso peito. O peito, carrega as coisas da vida, sejam elas leves ou não. O que se fez? Leve. O que precisar, leve. O viver não custa nada, mas o sonhar requer muito. Se algo pesa, pega carona, vai lá no profundo, conheça os abismos da vida, as profundezas das coisas, aprenda a mergulhar cada vez mais fundo.


Seja a luz da sua escuridão, faça-se luz onde ela esteja ausente, ainda que tímida, pequena, leve a luz. Essa lágrima que escorre do teu rosto, te pesa? Faz falta? O coração nem sabe mais o que quer. Se afoga no travesseiro, flutua pelas estrelas, passeia junto com o vento. Só vai, e nem olhe para trás, esquece do que deixa por aqui.

O céu cativa, a música oferece a ausência de peso. Estou leve, mas eu quebrei o chão, maldita gravidade. Sou gás, sou ideal. Inerte. Numa terça feira a vida ficou leve. Encurtou o tempo, e nota por nota eu sou feito pelo vento, o vento foi quem me fez, assim como eu sou. Sou filho dele.


A vida passa voando na avenida, simples, frágil, desvia daqui e dali, e não a fiz leve por alusão do acaso. Vida fumaça, queimou e foi por aí mandar sinal dizendo que existe. Pelo cheiro, pelo vermelho do sol, pelas suas cinzas que ainda passeiam pelo além. Sofrida vida. Mas que nem por isso deixou de ser leve. Andou tão leve que esqueceu de si, virou mentira, foi uma verdade que nem lembrou de acontecer.

Levou o que a fez feliz, junto com as cicatrizes, tatuagens dos tempos difíceis. Quanto suas cores, escolhidas a tons solenes de conversão, claros estados de transições. Ou foi ou ficou. Aprendemos com a vida, ainda que de forma dura, a ser leve. A minha hora vai chegando, preciso partir, sem excessos, sem pesares. Vou leve, tão leve que vou por conta do vento. Levo o que é bom comigo, teu pedaço em mim, ou quem sabe o todo, as suas lágrimas, seus sorrisos, suas cores.


Uma partida é certa, mais que as demais. Serei apenas pó. Minha mala esteve pronta desde muito tempo. Me disse e reafirmo, se precisar eu mudo. Mas só levamos da vida, a vida que escolhemos. Essa história é anterior a ela, aconteceu antes mesmo de ser prevista, planejada. Que haja despedida, sorrisos, assim como lágrimas. E um final sem questionamentos, arrependimentos, rancor ou excessos, sem termino, ponta, sem acabamento. Mas apenas leve.

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