Cinco dedos

Por Cristyam Otaviano - agosto 10, 2019

São cinco dedos que levam a destruição da minha espécie. Que criam meus monstros.

Falam para os homens, tocam teu corpo. Te atravessam sem cerimônia, indicam a tua direção. Lá! São minhas armas contra qualquer mal que me aconteça. Por eles, dou liberdade aos meus iguais, são monstros, eu vos crio, faço refaço e desfaço, disfarçadamente eu vos crio.

Ganham formas, fazem sonhos, são minha liberdade. Usam do alfabeto e fazem minha voz sair por aí, são cinco dedos. Legal? Espera até ver onde eles conseguem chegar. Não conclua nada que eu tiver tocado, é que meu espírito podre, amaldiçoa tudo que vira verdade perto de mim. Testemunharam meu viver.

As drogas que uso, escorrem pela mão, uma fumaça sai das narinas, puro ódio, seria catastrófico experimentar. Decepcionante o cigarro entre meus dedos, dois. Puxo, prendo e solto. A água que corre por entre dedos, o calor que foge por eles, corre de mim, insuportável é me habitar. Tato.

Impunham a caneta que conta os dias, compõe palavras, fazem lágrimas. A mão talvez voasse, os dedos cortam o vento, resistência. Vou desenhar tua existência na eternidade muda do papel. Ganhei prêmios perdendo tinta, tentando fazer quem nunca nem foi..

Numericamente testo hipóteses dentro de mim. Crio enredos, sambas, que homem nenhum jamais ousou ouvir. Cálculo e concluo que eu nunca existi. Tudo que fiz se resume a tentativa de ser eterno. Não se pode ser aquilo que já se foi.

Um. É um ponto, eu no meio da multidão. Carrego a promessa de uma eternidade, em ouro, forjado em sangue de outros qualquer. A ti, que não conheço, agradeço pela minha liberdade. Que má sorte, ter um amor. Pois, minha mão estava perdida a procura da tua. Te provo, invado, reviro e te calo em mim. Indico a direção, já não sou mais solidão.

Dois. Somos nós, que ainda não existimos, pois ainda me conjugo em singular. Quando a vida pode nascer... São a minha ruína. Os lados de uma moeda que lanço, na esperança da sorte me salvar. É a proximidade, minha perdição quando tu se põe a me invadir.

Três. Um plano formado, sou eu tentando ficar de pé. Pai, filho e espírito santo, habitando em mim. É a liberdade em ser, o milagre da multiplicação, resto. São os motivos que sempre te faltarão. O terceiro sexo, milênio, filho.

Quatro, elementos que me fizeram. Amores que tive, são as paredes do meu quarto, pichadas, em cores vivas, de verdades que morreram no passado. Sou eu em vão, vão, aberto todo para ti.

Cinco, é a minha verdade toda encarnada. Planícies, montes e picos. Minha história feita em marcas, linhas, traços e formas, é meu céu, sou eu. Passado, presente e futuro estampados em mim. É minha humanidade, tudo que preciso para ser. Meus sentidos que provam e destroem o mundo a cada amanhecer. Glória!

Digital, fica gravado na janela do ônibus que toco. Manualmente ainda escrevo tudo o que digo, sou todo tecnológico, cognitivamente invento, faço, sinalizo, arranho, puxo, pinço e crio. Definem, numa dança, se vivo, ou não, se tu estarás no fim da história, quem será eu, vilão ou mocinho. Fazem histórias que jamais se pensou acontecer.

Eles, escreveram teu adeus, fizeram o fim que tu mesmo escreveu. Que dizem que te amo, te fazem eterno, atravessam dias, tempos. Me escrevem, traduzem, pegam, puxam, passam. Início, meio e fim. A extensão de mim, por onde posso ser quem eu nunca fui. A liberdade de ser, estar, existir e amar. Em verdade, intensidade e profundidade, sou eu, uma mão e nela são Cinco dedos.


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