Água

Por Cristyam Otaviano - agosto 02, 2019

Cantando a chuva cai lá fora. Tudo está em silêncio, parece que o tempo esqueceu de acontecer. A dor me faz lembrar de coisa que não devia ter feito. Minha pele conta histórias que estão além de mim, são passados que jamais sairão. O passado as vezes não quer ser lembrado, mas ele existe.

Em energia corro por caminhos desiguais, vou para onde me falto. Nem sempre sei para onde quero ir, mas vou. Levando vidas, trazendo outras, fazendo cores, humores. Às vezes nem sei quem sou, só sei em ser.



Te faço, te percorro, te contorno, transformo e me tenho a ti. Sou tua percepção, o silêncio do teu mover, tua respiração. Teu pensamento fica em mim, sou eu, fugindo de ti. Tu me pertence e será até o fim dos dias.

A fome nunca foi um medo, estar vazio nunca foi minha salvação. O corpo pede, dói em silêncio, e o passado me vem. Aparece na esquina, me vê andando na rua, rever minhas histórias, faz sinal, liga, ele insiste às vezes em ser lembrado.

Insisto em esquecer, insistir em não lembrar, às vezes, de acontecer. Vem, se mostra. O mestre contempla sua obra, e a obra rever seu caminho.

Ser eu é insuportável, em que estado me ponho a estar? Sou triplico. Há falta de mim, sem mais nem menos mudo, me mudo, sou mudo. Silenciosamente aconteço, no silêncio de existir acontecem mistérios, onde eu poderia estar? Quem poderia ser?

Estamos perto do sol, são poucos dias até que todo mal acabe. Atravessaremos um dia, águas correrão, a presença não existe. Substancialmente, no frio que cai, que enche o vazio de cômodos, que leva a destruição, simples só em ser, fácil de se falar, é meu signo, minha intensidade, sou eu, Água.

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