A Luz

Por Cristyam Otaviano - novembro 25, 2022

Hoje fazem anos que não escrevo nada. Durante anos só reinou o mais absoluto, é silêncio, estático, como se o volume estivesse no mudo, mesmo rolando a mais pura pancadaria.

Em meio as urgências, ataques, incêndio e pesados, eu me calei, um calar em negação, por não querer acreditar em todo horror que vivia. Viver já era doloroso o suficiente, escrever sobre isso, ainda que na tentativa de alívio, seria ameaçador a mim mesmo.

Se engana quem pensa que durante esses anos eu estive calado. Não há dor maior na minha vida, que a dor da incompreensão. E não importa o quanto eu fale, explique, compare, metafore... No final eu sempre serei a vítima. Alguém que não resolveu se curvar ao sistema.

Dentro de mim, habitam abismos, vazios imensos e distâncias, que jamais imaginei que um dia fosse carregar dentro de mim. O tempo nunca foi tão cruel comigo. Carrego, como a dor de um Deus que carrega sua própria cruz. Esse é a minha, breve será a mim que me crussificará. Serei eu salvo? 

Não se pode ter tudo, eu mesmo penso que nunca terei a mim, na minha mais pura forma de ser. Morrerei, provavelmente cedo, sem ter sido tudo aquilo que eu mais sonhei, sem ter escrito tudo aquilo que me propus, mas tentarei até o meu fim. 

Existem mentiras que de tanto serem contadas, começam a se tornar verdades. Lutar é vão, são fatos, a mais pura e escancarada loucura não resolveria. Me atravessam e giram meu juízo por completo. Quando se gira muito em redemoinhos, durante tempestades, arrudeios e em círculos viciosos, o chão, o normal, o certo, vira tudo uma distorção, o chão virou meu céu.

E hoje eu hábito o duro de um concreto.

A vida ganhou uma simplicidade, nada mais tem importância, nem eu mesmo. Pouco a pouco sou consumido. Nem sei mais como fazer isso. Desaprendi como escrever, principalmente a escrever sobre a felicidade e como o céu é azul. 

Tenho medo de me mostrar, a quem quer que seja, meu eu, é de fazer pena, e talvez seja por isso que eu sofra tanto. O escuro tem sido meu abrigo, meu conforto, minha calmaria, e em mim já não entra mais sol. Houveram dias onde eu fui sol. E esse talvez seja o maior vazio que existe dentro de mim, o de luz. 

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