A Mentira

Por Cristyam Otaviano - janeiro 18, 2021

Em algum momento da história eu fui a mentira que virou verdade e nunca mais foi esquecida


Não se trata de ser eu, trata-se de quem eu sou, como sou. Isso não é sobre mim, é sobre alguém que talvez eu seja. Uma mentira. Preciso, exato, com hora e lugar para acontecer, sem tempo que se prove, sem retórica, sem réplica. Sou eu ali, inventado os fatos, fugindo de verdades. 

Os fatos não negam, não sou eu, é alguém que nunca fui, que de tanto ser eu, acabou sendo. Fazendo o que quer que seja, num lugar qualquer do tempo, no fim, fez de mim verdade. 

Sujo, imundo e detestável. Nada que eu digo provará o contrário, minha verdade é outra, é fraca, a palavra de nada adianta, é inventada. Num dia qualquer eu fui a mentira e nunca mais voltei a ser eu. Sou eu. 

Me inventam, me levam, trazem, botam, refazem e me fazem verdade, eu, mentira. Não há paz em peito algum, só culpa, por se ser quem é. Provo do ódio de mim mesmo com a culpa de verdades que nunca aconteceram. Os muros erguidos não adiantam. 

Há versões de mim que dizem mais sobre eu que qualquer um. Não há espaço para mim. São olhos de dúvidas, um amanhecer de incertezas, silêncios de angústia e escuros de mentiras. Não há espaço para minha verdade no tempo, o tempo nunca esteve a meu favor. Fui traído, o nunca me provou e nunca me esquecerei disso. 

Todos meus monstros estarão vivos em mim. Será o nascimento de uma nova espécie, o fim da humanidade. A raiz de todo o mal. 

Estou fadado ao fim, de então ser quem nunca fui, de provar de sabores dos dias amarelos, um tempo eterno onde eu viverei preso num instante qualquer, uma aliança com a dor e uma certeza em mim, que eu finalmente me tornei a verdade. Estarei no futuro provando o passado. Serei um fato e todo o espaço e tempo do vazio de mim existirá.

Deus estará longe o bastante para me socorrer, eu estarei no inferno dançando com meus piores pesadelos, vivos em mim. Serei um corpo no espaço. Uma vida perdida a tempo. A dor por ter sido eu. Não haverá luz alguma que possa me guiar. Inércia, vazios e abismos onde um dia existiram mares. Serei, sem eu. 

Finalmente eu serei a verdade de uma mentira. 

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