Sol

Por Cristyam Otaviano - agosto 14, 2021

Esse texto nasce na noite, é texto lua, mas precisa do sol.
Lembro bem do dia que voltei do sol. Quando o visitei e queimei na mais pura entrega. Fui Ícaro. Em gravidade me deixei levar, fissurado na fissura do espaço-tempo, eu era um átomo, pequeno corri depressa, estava preciso.

O Sol me precisou e fui, voando alto, buscando a verdade há tempos perdida. Despedido do chão, que por muito tempo foi minha casa. Hoje hábito um lugar entre a lua e o sol, fugi num disco voador.

Meus papéis queimaram, as palavras se perderam, fugiram de mim. A voz sob a luz, mudou, o tom é outro, os dias nascem com outros sons e o mundo gira diferente. Sou a revolução do mundo, o vento sopra e vai longe. Tudo está de ponta a cabeça.

A órbita é incerta, só sei que voava perto de lá. Possuído, eu possuía luz. Em alta frequência fui atravessado, aviesado, já nem era mais eu. Me vi em ciência, amor e religião. Fui Deus para homens que nunca puderam voar. Minha força vem do sol. E eu não vou desabar em mim.

O passado virou luz e o sol foi perdão. Eu era Deus sendo perdoado, sendo refeito para poder voltar a terra dos homens. Um novo sexo, um amor inédito, um monstro e um mistério, indetectável. Eles não me viram, fui o silêncio, pois o sol queimou meu som.

Dancei uma música qualquer. No vazio do espaço eu era alguém, pura matéria, ocupei espaços, justifiquei desacontecimentos. O sol era eu, fui ao sol. Num fenômeno, tive força, luz, um amigo, era o astro e era eu.



É Novembro e estamos indo para o lado de lá, veremos exatamente onde estávamos e o que deixamos para trás quando o tempo passou. Dançamos, queimamos, fomos noites de escuridão e também fomos luz. Na esperança de um futuro bom, o sol trouxe o inesperado de uma vida que eu mesmo não pude prever, nem imaginar.

Há dias que foram feitos para mim. O sol é meu amigo e até mesmo nossos amigos nos abandonam, não seria certo se não fosse diferente. Nem sempre fomos amigos, descobri no sol a companhia da solidão.

Amarelo, estava livre de todo mal que pudesse existir, purificado. Numa fresta de existência o sol entrou e me invadiu. Arrogante, fez vida a toda potencia que existia em mim, foi quando me pus a nascer.

Voltei à terra, quando desci, cai em mim, a água amorteceu a queda, a profundidade de mim, permitiu a sobrevivência. Estava de volta do sol, era Deus, luz, vida e pura energia. Inventei formas de amar, orientei, iluminei, queimei vidas, pus espécies na ameaça de extinção e brilhei na escuridão de um mundo que se escraviza em guerra. Eu tenho a liberdade, agora sei voar!

O céu é só uma cor. Voltei do sol e aviso aos homens, que eu cheguei em paz.

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