Ainda ficou um sonho

Por Cristyam Otaviano - outubro 12, 2019

Dia desses me peguei pensando sobre como o passado era, refletindo sobre as coisas que ficaram meio aos vendavais. Pouco ficou, é quase nada, se comparado a tudo que eu tinha e era antes das coisas começarem a dar errado.

Pouco a pouco, vi quem era e o que tinha, escapar pelas minhas mãos, se desfazer pelo tempo, ser tirado de mim mesmo. Sonhos, grandes vontades que tive na vida, certezas que sentia e que jamais deixariam de ser minhas. Amores que jamais pensei que nunca fossem morrer, morreram, se foram. Eu, que jamais pensei imaginei que me esqueceria, acabei esquecido em algum lugar.

Vi que não tinha quase nada e o pouco que ainda restou era mínimo para uma sobrevida. Dói, quando se descobre que nós não somos mais o mesmo. Tentar se buscar dentro de si, coisas que respondessem uma pergunta simples como "quem sou eu?". Havia um silêncio quando essa pergunta aparecia nos pensamentos. Calava e chorava num canto qualquer.

Tudo ficou confuso, tentar lembrar de detalhes era difícil. Aprendi a entender o silêncio de ser, a saber que certos silêncios precisam ser vividos, sentidos, ainda que doessem. É ensurdecedor, ouvir o eco do vazio que fica.

Sentir algo era raro. Certos dias eram só dias. Eu? Por um tempo nem sabia se existia. Toda minha humanidade havia sumido, eu era a paz de dias cinzas, dias que não pareciam ter fim. Tive a gratidão pelo que me fosse dado, fosse bom ou ruim, aprendi a ressignificar momentos, pessoas, fases, a vida e também a mim mesmo.


Foram temporais, dias nublados, dias cinzas e dias. Sobrevivi. A que custo? Ainda não sei. Mas estou aqui, olhando para trás e vendo tudo que passou, o que se foi e muito se foi. Meio aos restos, de quem eu era, dos sonhos que pensei em ter, de amores que nunca vivi, memórias que ficam numa caixa e meio aos papéis que guardo num canto da mesa, eu descobri que ainda ficou uma coisa.

Uma lembrança, de quando comecei a ser alguém, ainda nos tempos antigos. De quando eu era menino, sem saber bem o que queria ser, e fui, atravessando os anos, fazendo dia após dia minha personalidade. Ganhou força, se descobriu, se fez, se mostrou, gritou forte e ainda sustenta uma parte de mim. Muito se passou, quase tudo se foi, meio aos restos de mim encontrei um pensamento bobo, uma meta que nunca foi cumprida, era 2013.  Insuspeito, um desejo bobo, anos depois me salvaria, me daria a esperança de um futuro bom.

Todo mundo merece ser feliz na vida. Minha felicidade começa aqui, deitado nessa cama. Choro, só que de alegria, porque descobri que ainda ficou um sonho.

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