Viver, a maior das inspirações

Por Cristyam Otaviano - setembro 10, 2014


O cursor o encarava pulsando, em um tom de clemencia. Inerte e vivo. Alegre por em fim ter algo sobre o que escrever, depois de um longo regime de compor, tinha vários assuntos na cabeça, sobre os quais escrever. Um tanto embaraçados, como um fone de ouvido no bolso de um jeans qualquer. Logo o sujeito começou a digitar algumas linhas, por um momento sentiu que a coisa iria fluir, porem esse pensamento foi varrido da sua cabeça quando as ideias, em um turbilhão, não conseguiram se arrumar de forma lógica para dar um certo sentido ao texto.

Ele culpava o regime por levar dele o dom de escrever sem recursos maiores. Não sabia o que fazer, quando sua consciência, buscando- o ajudar, evocou uma frase. "Ofereça algo a seu gênio" e era isso o que ele faria. Café, boa música, dança livros e sol. Depois de algumas faixas ele voltou para o seu computador e tornou a escrever, porem não o bastante para render um texto. A guerra estava perdida. Fechou o navegador, desligou o computador e foi para a sua cama para ler algum livro enquanto a inspiração não o assumia, para em fim terminar o texto.

Minutos, horas e dias passaram-se e nada de inspiração. Disse para si que não queria sairia de casa enquanto terminasse o texto. De fato mal resolveu colocar a cara para fora do portão, a não ser que o seu texto estivesse em fim finalizado. Recomeçou, retomou. Nada.

A sociedade do lado de fora, o exigiu e ele teve de se fazer presente. Estava quebrado seu juramento de não sair de casa, até o texto está terminado. Foi quando resolveu se preparar para enfrentar a selva de pedra que uivava seu nome, no lado de fora. Era quase meio dia quando em fim saiu da sua zona de conforto.

Ao abrir o portão deparou-se com uma linda planta que cobria toda a porta da sua casa, suas folhas filtravam os raios solares. Ao sair do amparo da planta deparou-se com um céu de um azul simplesmente indescritível. Ele logo foi tomado por um sentimento bom, não sabia explicar qual, mas sabia que no fundo era uma coisa boa.

Já no ônibus, ele admirou a paisagem que passava janela afora como se fosse a primeira vez. Encantado com tudo passou a ver encantos onde não via antes, apesar de fazer o mesmo caminho há anos. Então chegou a hora de desembarcar da astronave da contemplação e dá continuidade ao caminho a pé. O lugar era desconhecido, porem ele sabia lá chegar uma vez que antes de sair de casa olhava no Maps onde ficava o lugar os ônibus que ali passavam, pontos de referencia e essa coisarada toda. A edificação, a medida que ele caminhava diminuía, o vento, vindo do mar, alisava seu rosto e ecoava em seus ouvidos. Ao dobrar uma esquina ele defrontou-se com um lindo prédio clássico, um prédio azul, perguntou-se de quando seria aquele prédio. O fato era que aquele não seria o primeiro, muito menos o ultimo, que ele veria naquela tarde. Ele continuou trilhando o caminho pro compromisso, deparando-se com prédios cada vez mais lindos.

Ao sair do compromisso, verificou seu relógio, 15h30min, ele teria tempo o suficiente para voltar sem pressa para casa. Pensou em refazer o caminho, mas queria saber se haveria outros prédios antigos. E foi avançando pelas ruas que avistou um carrinho onde uma mulher e um homem preparavam e serviam tapiocas para os cobiçosos famintos. A culpa era do destino, só podia ser ele e suas zombarias com as pessoas. E foi admirando as pessoas, deliciando-se com suas tapiocas e seus singelos copos de café, que então ele lembrou o quanto gostava das duas coisas e de o quanto queria comer tapioca nesses últimos dias, e que aí foi mais uma vez que o destino aprontava com ele.

Já no ônibus, sentado a janela, seguia o caminho de volta entre prédios de uma altura considerável. Foi então que a nave fez uma curva de 90º e o laranja invadiu sua vista. Era o pôr-do-sol. Enquanto outras pessoas colocavam a mão na cara para admira-lo ele fazia questão de manter o olhar na mega estrela. Olhou aquela paisagem até que não lhe fosse mais permitido.

Foi admirando aquela paisagem, extraordinária que começou a refletir como coisas simples e ingênuas como, café, céu azul, por-do-sol e tapiocas. Poderiam carregar consigo o poder de transforma um dia. Aquele mesmo dia sem inspiração, sem graça, tedioso. Agora se mostrava um dia surpreendente apesar de ele se quer ter exigido coisa alguma dele.

Ao chegar a casa, tratou logo de ligar o seu notebook, e as palavras simplesmente jorraram dos seus dedos. O texto foi então sendo tecido, paragrafo por paragrafo. Até o ultimo e irrevogável ponto. Agora o cursor pulsava dessa vez de exausto e farto de todas aquelas palavras. Foi então que o autor descobriu que não precisava de café, musica ou dança para render textos dignos. O que ele precisava era viver.



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