Estou enlouquecendo e temo por todos aqueles que amo, ou que acredito que ainda amo.

Não sei como, onde ou quando tudo começou, mas sinto a loucura em mim. Algo cresce mais e mais, a cada dia. Já não há nada aqui dentro, nem consigo me encontrar meio a isso que me esconde da minha existência.

Ainda respiro normalmente. Na maior parte do tempo sou eu quem você conhece, em outras, nem sei mais quem sou. Breve a loucura me consumirá. Temo por todos vocês. Meus monstros resolveram habitar a mim.

Já não sei quem sou, quem quero ser, muito menos lembro quem era. Estou enlouquecendo, e temo por todos. Guarde tudo que me lembrar em um lugar seguro pois, destruirei até a mim mesmo. Me mantenha seguro de mim. Ainda sou um processo, pela manhã poderei ser todo loucura.

As noites em claro, os ataques súbitos meio a sol de domingo me levam para longe, me carregam de mim, já não sou mais eu. E não há como conter, fujo, me escondo e calo, na esperança de ninguém me ver. Mas todos já sabem e não é mais segredo.

Por não alimentar a loucura ela agora se alimenta de mim. Já não tenho mais forças, e peço que se mantenham seguros quando já não for mais eu. E quando for aproveite o tempo que eu ainda permanecer em mim. Pois estou enlouquecendo e nada disso é sobre mim.

Essa é uma carta póstuma, sim, peço que só a leiam quando eu for todo loucura. Quando minha existência for terceira pessoa, estarei em plural. Nem no mais profundo do meu eu não existirei mais, serei resumido a memórias, lugares e poucas pessoas, que resistiam apesar dos poucos momentos de lucidez.

Quem é você que eu nem conheço mais? Não lembro, vira tudo um borrão passando nos meus olhos. Corro, fujo, durmo e tento me calar, mas foge do meu controle. Quem sou eu?

Destruirei tudo que restou de mim, até que você não seja mais elementar. Sua matéria será posta a prova. Não haverá pontas soltas, não voltará a ser o mesmo. Cuide de mim, antes que seja tarde. O dia está nascendo, só Deus sabe que monstro essa o novo dia trará.